Abrindo a solução: da gambiarra ao equipamento cientíco

Tecnologia e ciência sempre andaram juntos, beneficiando-se mutuamente. Não só o desenvolvimento da ciência permitiu grandes avanços tecnológicos em benefício da humanidade, bem como ciência de ponta só pode ser feita com tecnologia inovadora.

É por isso que todos os dias, em laboratórios de todo o mundo, alguém está tentando – e conseguindo – construir um novo dispositivo tecnológico para resolver um problema científico específico. Da gambiarra com fita crepe à mais refinada implementação, estas soluções tecnológicas contribuem efetivamente para o progresso da ciência.

 

Dispositivo emergencial de engenharia: uma lixa rotativa para confecção de cânulas caseiras de microinjeção a feita a partir de HD defeituoso.

 

Entretanto, elas poderiam contribuir muito mais. Um dos problemas inerentes às soluções caseiras é que, uma vez desvinculadas de interesses comerciais, elas tendem a habitar apenas o microcosmo do laboratório em que surgiu. Daí surge a redundância de esforços e ideias, e, consequentemente, o desperdício de recursos financeiros e humanos. Mais ainda, a tecnologia tende a padecer de vícios de projeto e implementação perenes, relacionados às limitações naturais de seus criadores.

O remédio é simples: abrir o conhecimento para o mundo. Publicar em revistas especializadas ou mesmo na Internet a solução completa de hardware, incluindo sua descrição, os circuitos eletrônicos, o layout da placa de circuito impresso, especificações de componentes processos de montagem e desenho mecânico de peças para impressão 3D é uma estratégia inteligente e já ganhou nome próprio: Open Source Hardware, ou OSH para os íntimos. E OSH, sobretudo o voltado para problemas científicos, tem um monte de vantagens. Não só do ponto de vista de compartilhamento de solução, pois é estratégia de desenvolvimento sustentável, mas também para o criador.

Joshua Pearce, em seu livro “Open-source Lab: how to build your own hardware and reduce research costs” (2014, Ed. Elsevier), explica que quando abrimos a tecnologia (e também nossos protocolos experimentais) para o mundo, ganhamos milhões de olhos especialistas que procurarão falhas e irão sugerir melhorias, fazendo com que a tecnologia e o método tendam a se tornar excelentes. Por sua vez, a excelência promove a ciência e faz a humanidade avançar. Ele sistematizou este ciclo virtuoso de ciência melhorada descrevendo que abrir métodos e tecnologia para o mundo atrai revisão de pares em massa, que leva a:

  1. Protocolos e hardware otimizados, muitas vezes com custos substancialmente minimizados e com desempenho consideravelmente melhorados, o que implica em:
  2. Maior visibilidade do laboratório ou do grupo de pesquisa, mais citações e melhoria nas relações públicas, que levam a:
  3. Maior sucesso na captação de recursos de fomento e melhoria no recrutamento de alunos e equipe científica que implica em:
  4. Melhoria na relação do estudante com os ciclos de treinamento e educação científica.

No nosso país, a Open Science Brasil é uma iniciativa pioneira para a difusão e promoção da cultura da Open Science e do Open Source Hardware. Criada por uma equipe de cientistas de São Paulo e Minas Gerais, seu objetivo é difundir os temas por meio de palestras e treinamentos, apoiar o desenvolvimento de tecnologias open source e cooperar no sentido de aproximar soluções abertas dos laboratórios que delas necessitam.

Quem puxa a Open Science Brasil é a tecnologia aberta para eletrofisiologia neural Open Ephys, baseado no revolucionário chip Intan série RH.

Para saber mais sobre tudo isso e sobre como você pode participar desta mudança de paradigma na forma de fazer ciência, fique ligado nas páginas oficiais e demais canais da Open Science Brasil.